Gordo de Raiz

Gordices na Tríplice Fronteira

Crônica originalmente publicada em 1º de julho de 2011 no Papo de Gordo.

Uma maratona de três dias, passando por três cidades em três diferentes países? Complicado? Trabalhoso? Impossível? Que nada, isso é Foz do Iguaçu e a Tríplice Fronteira. Sim, três países. O povo quer tanto fazer uma visitinha ao Paraguai para hacer unas compritas que esquece que a Argentina também está ali pertinho. O pior é que, pensando em comprar um moderno PolyStation 3 ou o novo CD do Juan Zantana, as pessoas não costumam lembrar sequer de fazer turismo na própria Foz e perdem a chance de ver coisas muito legais.

Mas, como diria um legítimo vendedor paraguaio, calma, mi amiguito, que nosotros vamos hablar de una cosita de cada viez.

A maratona começou no sábado. Mal chegamos em Foz, eu e minha esposa zarpamos para o limbo. Para ser mais preciso e menos metafórico, visitamos um free shop que fica no espaço entre as aduanas brasileira e argentina, uma espécie de saguão de aeroporto a céu aberto. Ah, sei lá, é esquisito. Pelo menos o free shop era legal. Joguei um pouco de Nintendo 3DS até meus olhos ameaçarem pedir asilo político, mas deixei pra gastar meu limite de compras na extensa área de chocolates, doces, balas, alfajores, mais doces, mais balas, mais chocolates e mais alguns alfajores. Foram literalmente quilos de embalagens gigantes e baratas de guloseimas variadas. É um paraíso… mesmo sendo o limbo.

Depois de garantir minha permanência no grupo de risco de diabetes, resolvemos cruzar a fronteira pra valer e conhecer um cassino. Na Argentina, o jogo é liberado. Como eles são bem espertos, naturalmente colocaram um cassino bem grudadinho com a divisa brasileira para que os tupiniquins doidos para bancarem os bobos se divirtam fazendo doações de dinheiro para o dono da casa. Eu não gosto de jogo, mas, oras, eu era um turista e precisava visitar o local. Não nego que foi divertido colocar alguns centavos numa máquina de caça-níqueis igual às que vemos nos filmes, mas, mesmo ganhando alguns trocados, era óbvio que eu perderia tanto quanto jogasse ou até mais.

Além disso, do outro lado do cassino, onde estavam as mesas de vinte-e-um, roleta e coisas do tipo, cheguei à conclusão de que os filmes são definitivamente muito falsos. No cinema, vemos o James Bond aparecendo numa mesa de roleta, colocando uma ficha no número 17 e ganhando uma nota preta. Na vida real, tem uns caras que parecem zumbis, fumando feito chaminés, espalhando centenas de fichas e dezenas de números diferentes na mesa como se estivessem hipnotizados. Tenho quase certeza que alguns também babavam. Depois de umas boas horas entre a girada da roleta e a descoberta de que ninguém ganhou absolutamente nada, os zumbis começavam tudo de novo, sem parar pra respirar. Pena que não podia fotografar.

Também demos uma passadinha na minúscula Puerto Iguazú, mas já gastei tanto espaço falando sobre assuntos argentinos que vou deixar a cidade propriamente dita pra lá. Melhor falar de Foz do Iguaçu, nosso foco turístico do domingo (sem contar que era dia dos namorados, então nada melhor que fazer passeios legais do que ficar comprando tênis da Náique). A visita obrigatória, naturalmente, são as Cataratas do Iguaçu. O lugar é simplesmente lindo, mas prepare seu fôlego: Nenhum gordinho chega incólume ao final da caminhada. Se chegar vivo, já está no lucro.

Foi lá também que conheci o animal mais perigoso do mundo: o quati. Ao menos, creio que ele seja o mais perigoso do mundo, já que havia em todo o parque das cataratas mais avisos para ter cuidado com o bichinho do que jamais vi em qualquer jaula de leão. Não podia encostar, dar comida, deixar criança chegar perto… Os riscos variavam de pagar raiva até morrer com um rabo enroscado em seu pescoço após ser asfixiado lentamente de forma sádica (se bem que eu posso ter traduzido errado as informações em inglês). A criatura é tão sinistra que o ônibus que leva os turistas de um lado para o outro no parque ficou uns dez minutos parado, esperando que o quati saísse da frente, já que nem enxotar o ditocujo era permitido. Pior que político.

Outro lugar legal pra visitar em Foz é a hidrelétrica de Itaipu. Ela também fica num limbo (sua área, tecnicamente, não é nem Brasil nem Paraguai – já viu que essa região tá cheia de limbos, né? Metáfora boa taí). É muito interessante ter uma noção real do tamanho daquela coisa gigante. De longe, não parece ter mais que alguns metros, mas de perto é absurdamente enooorme. E com isso deixamos as boas metáforas de lado.

Mas a cereja do bolo (ou la cereza del buelo) ficou para o último dia: Ciudad del Este! Para quem nunca visitou o lugar em alguma excursão suspeita, é como se a 25 de Março se fundisse com a Santa Ifigênia e ambas se emancipassem de São Paulo, criando uma cidade dedicada exclusivamente à venda de produtos de procedências tanto reais quanto misteriosas. É um enorme amontoado de galerias, lojas e barracas com os mais diversos produtos das mais variadas “gradações” de originalidade.

Agora, querido gordinho muambeiro, se você quer dar uma passadinha pelo Paraguai para comprar umas lembrancinhas, prepare-se: São ladeiras, espaços apertados e, em alguns casos, muitas escadas. Compre bastante água para aguentar o tranco. Não esqueça também de levar em conta as trocentas sacolas que você vai ter que carregar pra cima e pra baixo. E, creia, atravessar a fronteira a nado não é uma opção, então confira se a aduana está dando mole ou se mantenha no limite de 300 dólares. Seu novo Quinéquiti para o Y-Box não pode esperar, afinal.

É isso. Não faltou nada… Ei… Peraí… Corri tanto pra visitar as três cidades que acabei esquecendo de fazer turismo gastronômico… Caraca! Será que eu fui substituído por um gordo de raiz made in Paraguay? Estou merecendo ir pro limbo…

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