Gordo de Raiz

O gordo torcedor

Crônica originalmente publicada em 9 de junho de 2011 no Papo de Gordo.

* Uma pequena contextualização: Como dá pra perceber, esse texto foi escrito pouco depois do Vasco ter sido campeão da Copa do Brasil em 2011. Eu estava na dúvida se valeria colocar esse texto aqui ou não, mas considerando que desde aquela vez o Vasco não ganhou mais nenhum título de nível nacional, melhor colocar pois sei lá se vou ter outra chance de escrever um texto assim 🙁

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Ser torcedor é uma tarefa ingrata. Você se esgoela e vibra por algo que, em essência, não muda em absolutamente nada a sua vida. Para um gordinho, tudo fica ainda pior, já que muitas vezes a tarefa de torcer exige um preparo físico maior do que o necessário para estar em campo. A grande vantagem é que jogadores não podem comer salgadinho durante a partida.

Essa semana foi particularmente agitada em termos de torcida. Tudo começou na terça, com o jogo de despedida do Ronaldo na Seleção. Foi bem legal ver um gordinho num torneio que não fosse pelada de fim de semana entre amigos bêbados (ou coisa pior). Só queria saber onde ele conseguiu aquela camisa porque eu já fui em várias lojas e nunca achei uniformes acima de GG…

De qualquer forma, no jogo do Brasil contra a Romênia nem exigiu muito da arte de torcer, já que foi uma partidinha morna cujo maior destaque foi o discurso do “Fofômeno” entre o primeiro e o segundo tempos (achei que ele ia chegar perto do microfone e falar “Eu quero o número dois com fritas extras”). Mas ainda assim serviu de preparação para a quarta-feira, quando uma partida realmente emocionante fez o Brasil todo vibrar: A final da Copa do Brasil entre Vasco e Coritiba!

Tá, exagerei, mas torcedor é exagerado e não me perturbe a paciência. Reclama lá nos comentários.

Futebol em terras tupiniquins é um tema perigoso. Textos ufanistas durante a Copa do Mundo estão liberados porque até gremistas e colorados se unem sob o uniforme amarelo da Seleção, mas falar do próprio time costuma gerar ódio irracional de trolls esportivos. Portanto, prometo me fiar ao tema “gordo torcedor” e ser imparcial quando falar do maravilhoso, incrível, extraordinário e fabuloso VASCO DA GAMA, CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL DE 2011. Sou um articulista sério, afinal.

A primeira coisa que um gordo torcedor precisa ter em mente é que, ao contrário de outras atividades diante da TV, torcer é bastante semelhante a fazer exercício. Talvez o que mais se aproxime dessa atividade seja jogar uma partida de Wii ou de Kinect, mas com menos emoção e gritos.

A alimentação é fundamental. Pegue os salgadinhos mais gordurosos que você tiver no fundo da despensa (ou embaixo do sofá) e um – talvez dois – baldes de refrigerante. Também pode ser cerveja, mas aí é por sua conta e risco. Se após os 90 minutos você não souber qual dos quatro times venceu a partida naquele estranho estádio de futebol flutuante depois que o elefante rosa apitou o fim do jogo, a culpa não é minha.

É importante também ter um dicionário de palavrões para proferir impropérios de forma auspiciosa. Afinal, ninguém aguenta mais todo mundo abrindo a janela para berrar sobre a garota de programa que deu à luz. E prepare a garganta, pois a intensidade do grito deve variar de acordo com a proximidade da bola no gol do seu time. No jogo do Vasco, por exemplo, o Coritiba chegou com perigo no gol tantas vezes que eu quase perdi minhas cordas vocais.

Ainda sobre esse jogo no qual o VASCO DA GAMA SAGROU-SE CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL (informação pertinente para o contexto do artigo, garanto que não foi desculpa pra falar do Gigante da Colina), uma dica aos gordinhos sedentários: Evitem dar uma “saidinha” durante a partida. Quer queira, quer não, um torcedor vai parar tudo o que estiver fazendo para olhar novamente para a TV ao perceber qualquer alteração no timbre de voz do locutor, mesmo que ele esteja apenas anunciando as qualidades da conta corrente do banco patrocinador. Pular e vibrar com vontade de ir ao banheiro já é ruim; fazer isso em pé, com o risco de dar pulos de raiva e passar vergonha enquanto xinga o juiz por não ter dado pênalti naquele lance que aconteceu no meio de campo, é muito pior.

Por fim, caro gordinho torcedor, nunca deixe de conferir se seus exames cardíacos estão em dia antes de torcer por seu clube do coração. Sofrer um infarto durante a partida é uma péssima ideia porque seu time pode vencer e seus amigos jamais irão enterrá-lo porque acreditarão que seu estado de defunto “deu sorte”. Depois disso, seu cadáver será provavelmente empalhado para que sempre esteja perto da TV (sem contar que ninguém ia conseguir carregá-lo, então essa seria mesmo a opção mais racional).

Caso você não tenha um bom condicionamento físico (o que fatalmente é o caso), prepare-se para um dia seguinte cheio de dores musculares. Se o seu time perdeu, diga às pessoas que você começou a fazer musculação e que o personal resolveu pegar pesado (“Meu time jogou? Nem acompanho essas coisas de futebol”). Agora, caso seu clube de coração tenha sido campeão (igual o VASCÃO), você está autorizado a comemorar, sacanear os amigos e afirmar que se esforçou muito mais do que aquele bando de jogadores que não fazem mais que a obrigação deles em vencer. Você, sim, que dá o sangue pelo time porque torcer pra valer não é mole não.

Só não dá pra desfilar pelas ruas de uniforme, a não ser que o Ronaldo dê a dica de onde ele consegue os dele.

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