Gordo de Raiz

Reminiscências eleitorais

Crônica originalmente publicada em 4 de outubro de 2010 no Papo de Gordo.

* Uma pequena contextualização: Não precisava nem dizer, mas essa crônica veio após as eleições de 2010, quando nossa maior preocupação era a eventual eleição do Tiririca e de alguns outros famosos sem experiência política que serviam de “puxa-voto”. Cara… e a gente achando na época que isso era o pior que podia acontecer numa eleição…/em>

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As eleições foram ontem. Tudo que já podia ser comentado sobre o escrutínio (eu disse escrutínio) já foi escrito em tudo quanto é canto. Tiriricas, Romários e afins já estão garantidos em Brasília e assuntos de menor importância flutuam por aí.

Mas o que isso tudo tem a ver com um reles eleitor gordinho? Nada. As urnas eletrônicas ficam em locais amplos e têm botões gigantescos, coisas que facilitam o voto do pessoal que possui curcunferência e dedos grandes. As filas até que são cansativas, mas nada muito demorado se compararmos com a primeira vez que tivemos votação digital (com velhinhas desesperadas procurando o moço pra ajudar no caixa eletrônico).

As únicas coisas que não mudam são a boca de urna rolando solta (pelo menos aqui pela Baixada Fluminense), a sujeirada absurda nas ruas e uma porção de gente sem fazer a menor ideia de em quem vai votar.

– Qual o número do Tiririca?
– Ele é candidato de São Paulo, moça.
– Ah… Então vou votar no Netinho pra deputado! Gostava dele no Só Pra Contrariar.
– Ele é candidato a senador… também de São Paulo… e… ah, deixa pra lá.
– Puxa… Tem alguma sugestão?
– Desculpe, mas tecnicamente isso seria boca de urna. A senhora não decidiu seus candidatos?
– Deputado federal ainda não sei. Pra estadual me deram vinte reais e um número. Governador e senadores, vou votar em Fulano, Cicrano e Beltrano [os nomes foram omitidos para preservar as famílias] porque asfaltaram minha rua.
– Então, tá. Se a senhora viu eles virando asfalto por lá, quem sou eu pra contestar…
– Presidente que estou em dúvida.
– Que tal o Ulysses Guimarães?
– Maravilha! Eu lembro que gostava da musiquinha dele. Qual o número?
– Acho que errei de sessão, tenho que ir, tchau!
– E o número do Ulysses? Moço! Moço!!

História quase real. Talvez só não pior que o pessoal que decide o candidato assim que pega o santinho no chão. Voltando do meu dever cívico, por exemplo, vi um casal que escolheu o candidato pelo santinho que estava menos sujo na beira da calçada. Juro! Uma metáfora pra ficha limpa, talvez.

Claro que nenhum eleição vai ser tão divertida quanto a de 1989. Se você não viveu a eleição de 89, você não sabe o que é democracia. Tínhamos um Lula de raiz, um Brizola à toda, um Enéas recém-surgido do éter e tudo o mais que se possa imaginar. Os debates eram emocionantes, fazendo as denúncias dos programas atuais parecerem um “Você é bobo, feio e chato”.

– Tenho um dossiê contra o digníssimo candidato. Aqui eu comprovo que ele roubou um pirulito de uma criança!
– Calúnia! A criança em questão era meu afilhado! O pirulito estava contaminado por agrotóxicos e eu precisei evitar uma tragédia ambiental!
– O pirulito foi superfaturado, digníssimo candidato!
– Quero provas! Quero provas!
– Era de caramelo!
– Calúnia! Eu só gosto de morango!

Apesar de tudo, o pessoal de hoje é feliz e não sabe. Na minha época a contagem de votos demorava dias. Teve uma vez que levamos duas ou três semanas para saber quem seria o governador! Hoje em dia essa geração pipoca de micro-ondas fica nervosa porque o resultado demora looongas cinco horas pra sair.

Bom… Apesar de tudo, a primeira parte da eleição acabou, teremos segundo turno e o pessoal do KLB não foi eleito (ao menos um alento). E ainda continuo sem ter deixado de votar em uma eleição sequer desde meus 16 anos! Pois é, sou um tanto masoquista, mas fazer o quê? Pelo menos não votei na Mulher Melão (embora não tenha faltado abacaxi pra eleger).

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