Gordo de Raiz

Um gordo de raiz no spa – dia 6: fome até debaixo d’água

Crônica originalmente publicada em 23 de março de 2010 no Papo de Gordo.

Estou há praticamente uma semana dentro desse spa. Quando saio, é apenas para caminhar, o que não é lá muito agradável. Não que aqui dentro não se caminhe. São caminhadas constantes, seja na esteira, seja no trajeto de 300 metros que circunda o spa, seja na piscina especial para caminhadas com correnteza artificial.

Uma piscina dessas só deveria existir em parque aquático, onde você deita numa boia gigante e pode tirar um cochilo enquanto a falsa correnteza te leva para um relaxamento real. Já aqui, você tem que lutar contra a água a pé, tal qual um boi atravessando um rio bravo… tá, a comparação não foi das melhores. De qualquer forma, piscina deveria ser algo destinado apenas ao lazer. Mas nada é simples nesse mundo de sádicos onde até inventaram bicicletas ergométricas para usar dentro da piscina. Pois é, hidrospinning. Quando vi a cena pela primeira vez, quase chorei. De medo. Como me estragam uma piscina aquecida colocando o povo pra pedalar lá dentro?

Foi com essa sensação de medo e preocupação que fui fazer hidroterapia. Não tinha ideia do que poderia ser. Uma “terapia na água” não faz muito sentido, já que não consigo imaginar Freud de sunga perguntando para um paciente se ele afogou a mãe. Mas não era nada disso. Essencialmente, hidroterapia se resume a assoprar bolhinhas na água usando um canudinho e a ficar boiando. Pois é. Fiquei fazendo bolhinha na piscina e boiando por meia hora. Ou seja, desde criança eu faço hidroterapia e nem sabia. Tudo bem que eu fazia bolhinhas na água de outro jeito, mas o princípio está presente.

Esse relaxamento inesperado na piscina não foi a única boa notícia do dia. No almoço foi servido rocambole de carne. Tudo bem que era minúsculo (pra variar), mas estava bom. Na verdade, depois desse tempo, minha barriga ronca um pouco menos escandalosamente e esse prato, que me deixaria deprimido no primeiro dia, já me deixa alegre. Contudo, antes que alguém pense que eu estou ficando curado da “gordice crônica”, vale informar um fato que contradiz essa percepção: acordei com azia. Não uma azia normal, comum, ordinária. Uma azia provocada por alface.

Explicando melhor: Desde o primeiro dia venho lutando contra meus princípios e me esforço pra comer salada. Normalmente pego duas ou três folhas de alface e um ou dois tomates, o que é bem menos que todo mundo, mas muito mais do que eu costumava fazer. Além disso, costumo misturar gelatina à salada, como já comentei anteriormente. Mas, ainda assim, é um esforço incrível. O problema é que, nesses seis dias, comi tanta salada (ao menos para meus padrões) que ontem já estava quase botando tudo pra fora. Nem a gelatina ajudava. Eu tentava fazer uma maçaroca de alface na boca e engolir tudo de uma vez dando uma golada no suco pra ajudar a descer, mas isso só me fazia quase botar tudo pra fora. Ainda assim, num esforço hercúleo, consegui comer a famigerada folhagem.

Só que passei mal a noite toda e fiquei arrotando alface por horas. Isso me fez acordar hoje com uma azia desgraçada que persiste, embora mais leve, até agora. Como bem disse Marcelo Soares, pessoas normais passam mal com feijoada ou bebida e só eu mesmo pra passar mal com alface. Como eu não gosto de feijão e detesto álcool, o Universo deve ter escolhido salada para minha sina alimentar. Menos mal, podia ter sido chocolate.

Mas nada disso importa mais. Amanhã vou embora. Meu check-out é de manhã e, logo depois estarei livre do spa. Quer dizer… Não imediatamente livre, já que disseram que eu posso ficar para o almoço sem nenhum custo, já que vou estar mesmo por aqui e não tem tanta gente esses dias. Ou seja, não adiantou ter pesquisado no Google Maps as churrascarias mais próximas para fazer a “reintoxicação”. Vou ter que voltar pra casa arrotando alface.

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