Gordo de Raiz

Um gordo de raiz no spa – dia 4: caminhando e andando

Crônica originalmente publicada em 21 de março de 2010 no Papo de Gordo.

Não aguento mais falar de comida nessa coluna. Tudo bem que estou falando de comida de spa, mas ainda assim é comida. Como estou morrendo de fome e mal cheguei à metade da minha permanência no spa (ainda…), vou mudar de assunto pelo menos dessa vez. O que não significa que falarei de coisas agradáveis, claro.

Já que comer é ganhar calorias (mesmo que tão pouquinhozinhas), vamos ao outro lado do spa: a queima de calorias (eu avisei que não seria agradável). Há diversas formas de queimar calorias por aqui. Temos uma academia de ginástica, piscinas (sendo uma especial pra caminhadas contra a correnteza, mais uma invenção sádica e cruel) e um enorme espaço que nos obriga a caminhar nem que seja um pouquinho (o restaurante fica a quase cinquenta metros do meu quarto, um desespero!).

Mas também temos as caminhadas “pra valer” (as que ocorrem fora do spa). Como precisava curar o trauma de ter quebrado o braço ano passado durante uma caminhada no Parque Municipal de Petrópolis (na verdade, antes mesmo de começar), resolvi encarar a caminhada novamente para ao menos poder dizer que aquilo foi apenas azar (juro que não estava tentando quebrar o braço de novo (e também juro que vou parar de usar parênteses nessa coluna)).

Acordei cedinho nesse domingo. Um tremendo contrasenso, claro, já que domingo é dia de dormir até mais tarde, mas eu não tinha muita escolha já que a caminhada era de manhãzinha e eu precisava comer minha meia maçã no desjejum antes de partir. Pensei comigo: “Eu não cheguei a entrar na área de caminhada no Parque daquela vez, mas deu pra notar que o trajeto é circular, então posso ir devagar e enrolar o professor de educação física dando menos voltas que todo mundo”. Ledo engano: Como hoje é domingo, o Parque estava fechado. A caminhada foi na rua. Seria meia hora indo e meia hora voltando. Não dava pra enrolar. Lasquei-me bonito.

Como não queria a sensação de ter acordado cedo à toa, fui caminhar com o grupo assim mesmo. De cara, notei duas coisas: Primeiro, os velhinhos têm muito mais energia que eu, já que depois de apenas dez minutos eles já estavam vários passos à minha frente, tendo sumido do meu campo de visão pouco tempo depois. Segundo, apesar de estar com um iPod em pleno volume, me distanciar do grupo e ficar em silêncio, as pessoas não percebiam que esses são claros indicativos de que eu não queria bater papo.

Conversar durante uma caminhada detonaria meu fôlego mais do que já estava detonado. Pra ter uma ideia, depois do primeiro quilômetro meu café da manhã já tinha virado suor e evaporado. Além disso, as poucas conversas que tive com outros “internos” se resumiram a temas como “Quantos quilos você perdeu?”, “Qual o grau da sua obesidade?”, “Será que consigo manter a dieta fora daqui?” e coisas do gênero. Falar sobre o terremoto do Chile ou o lançamento de God of War III, nem pensar…

Pra piorar, um pedaço da caminhada foi às margens da rodovia Washington Luiz. Durante esse trecho eu não parava de pensar que era só caminhar mais 30 quiômetros, mais ou menos, e eu estaria no centro gastronômico de Petrópolis, onde existe um restaurante italiano maravilhoso. Nem as pinturas da estrada dizendo “Devagar” me ajudavam a parar de pensar nisso, já que eu as entendia como “Divagar”. Tá, foi infame, vamos pro último parágrafo.

Ao fim da caminhada, minhas pernas já não me obedeciam, a respiração estava mais difícil do que em Pandora e eu já havia preparado minha consciência para encontrar o Infinito. Sobrevivi. Meu tênis ficou em um estado lastimável, mas não mais que eu. Da próxima vez, antes de me inscrever para a caminhada vou ter certeza de que ela vai acontecer no Parque mesmo. E vou ter que resistir à tentação de quebrar o braço de novo pra escapar.

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