Gordo de Raiz

Um gordo de raiz na academia

Crônica originalmente publicada em 13 de janeiro de 2010 no Papo de Gordo.

Barulho alto, pessoas saradas que só falam sobre sua própria “saradice”, instrumentos de tortura cujo único objetivo é fazer com que você faça esforço físico sem sentido… Isso é a essência de uma academia de ginástica. O último lugar onde se poderia encontrar um gordo de raiz, certo?

Errado…

Caí na fatídica obrigação de ir à academia. É minha quinta ou sexta tentativa, se não me engano. Nunca foi por vontade própria, claro. Às vezes era gente perturbando para eu emagrecer, às vezes era a ilusão da necessidade de ficar sarado (até um gordo de raiz se deixa levar às vezes), mas dessa vez foi o clássico risco de bater a caçuleta.

Sem entrar em detalhes, amiguinhos, tive que ir para a academia por motivo de força maior. Sei que há boas razões pra fugir desse antro de testosterona e suor e que é mais do que comum desistir, mas não posso mudar o fato de que tenho que encarar essa coisa.

Minhas experiências anteriores com academias não foram muito promissoras. Pra ter uma ideia, eu sempre dormia profundamente entre cada sessão de abdominais. Por sinal… Que coisa mais estranha a abdominal. Você tem que fingir que levanta e deita sem parar e, para um gordo, isso só serve para ver a barriga parecendo buzina de bicicleta. Só falta fazer barulho.

Atualmente, meu maior sofrimento nem é ficar ouvindo abobrinhas dos fãs de bíceps, tríceps e quadríceps. Para minimizar esse problema, escolhi um dos horários mais vazios. O risco de micose com o suor também não me afeta, já que eu suo tão abundantemente que meus litros de suor devem anular qualquer restolho de xixi de pele alheio que exista nos aparelhos. A música alta, chata e insuportável também não é um problema, já que fico ouvindo podcasts em alto e bom som nos fones de ouvido (se vou ficar surdo, que seja por culpa de podcasts, não de música techno).

O grande problema hoje em dia é que algum sádico decidiu que uma academia é um ótimo lugar para fazer propaganda de comida! Diante da esteira, colocaram um “outdoor eletrônico” mostrando restaurantes de comida japonesa e churrascarias, com imagens mais detalhadas do que a foto de barriga tanquinho que um cara lá adora mostrar. Em frente ao aparelho de abrir a perna (que parece treinamento para parto com fórceps) há um cartaz gigante mostrando pastéis de camarão (não gosto de camarão, mas o pastel é o que importa). Nem ficar na frente do ar condicionado é bom, já que me obriga a ver a TV, sempre passando programas de culinária! Culinária e fofoca, para ser mais exato. E olha que eles têm TV por assinatura e poderiam colocar até mesmo num canal de filmes (nem peço por um National Geographic, que seria demais), mas sempre deixam na Record.

Academia realmente é o último lugar onde se poderia encontrar um gordo de raiz, mas eu sou tão pirracento que vou ficar nessa porcaria até aguentar mais tempo do que de todas as tentativas anteriores somadas!

Ainda bem que isso significa duas semanas.

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