Gordo de Raiz

Um gordo no elevador

Crônica originalmente publicada em 29 de abril de 2009 no Papo de Gordo.

“Segura a porta!”

Elevadores… Caixas presas por um fio que levam pessoas para cima e para baixo… Lugar de sofrimento para quem tem olfato apurado e para gordos, não necessariamente nessa ordem.

– Desculpe. Não dá para o senhor subir agora, está lotado.
– Como assim, está lotado? Só tem cinco pessoas aí dentro.
– Seis, contando comigo.
– OK, OK… Ascensorista também entra na conta. De qualquer forma, a lotação é de sete. Está ali na plaquinha.
– Sete pessoas ou 490 quilos. O senhor… bem… desculpe, mas o senhor vai fazer a gente ultrapassar esse limite de longe.
– Não sei quem foi o retardado que trabalha na fábrica de elevadores que acha que todo mundo tem 70 quilos! Além do mais, aquele moleque lá no fundo deve ter no máximo uns trinta. E aquela anoréxica ali atrás não passa dos quarenta!
– Anoréxica é a mãe, ô baleia!
– Baleia é o teu passado, boneco de palitinho!
– Senhor… Por favor, tire o pé da frente da porta para que eu possa fechá-la.
– Eu vou subir nesse elevador e você não pode me impedir!
– Mas temos o limite de peso…
– Ei, gordinho! sobe de escada e aproveita pra fazer exercício!
– Quem falou isso? Ah, foi você com essa camisetinha “mamãe sou forte”, né? Que mania de achar que todo mundo só vai ser feliz fazendo exercício! Esteira pra mim, só aquela de praia pra dormir.
– Senhor… Por favor… Precisamos subir. Além do mais, o senhor não caberia aqui dentro. O espaço é limitado…
– Gordo se encaixa em qualquer lugar! Bom… Menos em cadeira de cinema ou lanchonete com mesa fixa, mas isso não vem ao caso… O ponto é: vou subir de qualquer jeito!
– E ainda por cima está todo suado, que nojo!
– Ô, madame, vejo que a senhora está toda arrumadinha indo pro escritório. Provavelmente acabou de tomar banho e veio cheirosinha com sua minissaia e essa blusinha trabalhar. Só que homem tem que usar essa porcaria de terno e gravata nesse sol do cacete, então vê se não enche!
– Senhor…
– Que foi, ô ascensorista?
– Deixa pra lá… Tudo bem, precisamos subir e não quero confusão. Entra logo no elevador. Mas se acontecer alguma coisa, não quero ser responsabilizado.
– Ufa! Finalmente! Chega pra lá, tia, que eu não uso Rexona, mas sempre cabe mais um!

Todo mundo ajeitado na lata de sardinhas, mãos para cima evitando qualquer risco de acusação de assédio sexual, musiquinha do Tom Jobim tocando ao fundo e o gordo bem feliz por ter feito valer seus direitos e orgulhoso por ter mostrado às pessoas o quão absurdo é ter preconceito contra os obesos.

Pena que o fim da confusão o tenha deixado tão relaxado que, ao som do sax tocando “Wave”, ele acabou soltando um caprichado pum. Subiu sozinho.

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